Chile, un país de temblores culturales — Parte 1
Sete dias é muito pouco para conhecer um país. Aliás, menos do que isso, foram apenas 5 dias disponíveis, pois nosso voo fazia escala em Buenos Aires, o que tomou quase dois dias inteiros para ir e voltar. No entanto, os 5 dias foram suficientes para me sentir completamente encantada com a cultura, as paisagens e as pessoas, e com uma vontade enorme de voltar para explorar ainda mais este país que mal conheço, mas já considero pakas!
A ida — 26/04
Eu só tinha viajado de avião uma única vez e para Santa Catarina, num avião enorme e confortável, durante 45 minutos. Mal sabia que essa experiência não me fez entender o que realmente era viajar numa aeronave.
Quando decolamos, meu coração foi parar na garganta e, não sei se foi por causa da minha ansiedade ou se porque sentamos depois da asa, mas tudo tremia tanto que fiquei tão tonta, enjoada e com uma queimação na testa, que não conseguia mais abrir os olhos. Meu coração estava à milhão enquanto sentia um suor frio escorrer pelas minhas mãos. Minha irmã me olhava e ria, depois se mostrou preocupada, me dizia que iria passar, mas continuei dura na poltrona, petrificada, até chegarmos em Buenos Aires.
Chegando lá, resolvemos pegar algo para beber e encontramos este suco na cafeteria.
A chegada
Esperamos cerca de três horas até o próximo voo, que seria das 15:25 às 18:30. A esta altura eu já estava mais calma e a viagem até Santiago foi bem mais tranquila. Não sei se porquê estava menos receosa, se porquê o pesadelo de viajar de avião estava acabando ou se foi porquê sentamos na asa.
Há poucos minutos da aterrissagem, o capitão nos informou que estávamos sobre a Cordilheira dos Andes. Quando vi essa imagem senti meus olhos inundarem. Acho que nunca tinha visto algo tão grandioso e bonito abaixo dos meus olhos e conclui que ter juntado minhas moedas para realizar este sonho foi a melhor decisão que tomei nos últimos tempos.
E isso aconteceu no meio de abril, quando tive um sonho que estava viajando e também quando li nos trânsitos astrológicos que seria um bom momento para viajar. Eu procurava motivos que justificassem esse ímpeto, muito louco e intenso, que me conduziu para isso. Às vezes a gente só precisa ceder.
Chamei minha irmã, montamos um roteirinho básico de lugares que gostaríamos de conhecer e conversamos com algumas pessoas até comprarmos as passagens.
Conhecer o Chile, como disse, sempre foi um sonho. Antes de eu nascer, meus pais já eram amigos de um casal de chilenos, Guillermo e Patricia e suas duas filhas Sara e Claudia (a última mora em São Paulo e, sempre que dá, nos encontramos) que veio ao Brasil durante a Ditadura do Pinochet e por aqui ficaram até poderem voltar ao Chile — acho que quando eu tinha uns 6 ou 7 anos de idade. Mantivemos contato e essa vontade foi crescendo comigo até então. Já tinha planejado ir para lá há três anos, mas como eu vivia fodida de grana e tempo, nunca consegui.
Chegando no aeroporto de Santiago, Comodoro Arturo Merino Benítez, Seu Guillermo estava nos esperando e nos levou de carro até sua casa, no bairro La Florida, há cerca de 40 minutos do aeroporto. Lá, um de seus irmãos estava nos esperando. Seu nome é Carlos, que nos seus 67 anos de vida já conheceu 52 países (quero chegar lá!), entre eles Brasil e Alemanha — países em que viveu por algum tempo. Depois, chegou a Patricia, que trabalha desde então como professora de Matemática, tomamos um té (chá) e conversamos sobre nossos planos.
Primeiro dia — 27/04 — Holla, Santiago!
La Flórida, como disse o Seu Guillermo, é “um oásis no meio da maldade”. É um bairro tranquilo e a casa dele tem uma vista linda para a Cordilheira dos Andes. Acho que eu seria muito mais calma e feliz se tivesse uma paisagem dessas na frente da minha casa.
Acordamos de manhã e estava um pouco frio. Como lá ainda é horário de verão, as horas são iguais as de São Paulo, porém, 8 horas da manhã começa a amanhecer e, durante a noite, faz em torno de 7ºC. É frio pra porra!
Tomamos um café com pan amasado, um pão de farinha como os que têm aqui, só que redondinho e cheio de furinhos de garfo. Depois, demos algumas voltas pela região enquanto esperávamos pelo almoço que Seu Guillermo nos preparou antes de irmos ao centro: uma carne cozida com purê de batata e salada de acelga e tomate.
Centro histórico de Santiago
Pegamos o metrô até a estação La Moneda, onde está o centro histórico de Santiago. Quando entramos no trem, me senti num filme: a atmosfera diferente, as pessoas falando em outra língua, era tudo muito inebriante. Durante o trajeto, dois rapazes entraram no vagão em que estávamos e começaram a se apresentar:
Melhor recepção impossível!
Saímos do metrô e nos deparamos com uma praça abarrotada de pessoas, e foi cada figura que encontramos:
Percorremos mais alguns quarteirões até a Plaza de La Ciudadania, a Plaza de Armas, a Plaza de La Constituición, a Catedral Metropolitana de Santiago, o Palácio La Moneda e mais algumas outras praças. Também nos deparamos com uma apresentação de um grupo de chinchineros, um tipo de performance inspirada no personagem Él Chinchinero, carregando bumbos, órgãos, triângulos e entre outros instrumentos.
Cerro Santa Lucía
Andamos até o Cerro Santa Lucía, um pico que dá para ter uma linda visão do centro de Santiago.
Estação Bellas Artes
Caminhamos até chegarmos à Bellas Artes, uma estação entre La Plaza de Armas e Baquedano, porque queria conhecer o Bar Radicales, que fica na Calle (rua) Monjitas, no Barrio (bairro) Lastarria, conhecido como um bairro boêmio, cheio de restos-bar (uma mistura entre bar e restaurante, onde servem muitas comidinhas e não apenas porções para petiscar e entre outros atrativos). Mesmo com o pouco tempo, já posso afirmar que este se tornou meu bairro favorito.
Bar Radicales
O Bar Radicales recebe o nome de um antigo partido político de esquerda, o partido Radical, conforme Seu Guillermo nos contou e pesquisei. Até pensamos que se tratava de um bar partidário, porém, logo que se entra e lê o menu, já se percebe e se lê um aviso dizendo que eles não fazem parte de qualquer partido, porém se trata de um local seguro para discussões políticas e sociais enquanto se toma um trago (drink) ou se pede uma porção para picar (petiscar). E pra quem o lado esquerdo bate forte, já se sente bem logo de cara! Lá também tem um cinema, uma pista de dança embaixo e um restaurante ao fundo. A decoração do lugar é incrível!
Acabei bebendo um pouco demais e quase fiquei borracha (belda), hora de ir embora. No nosso trajeto até o metrô, descobri uma Santiago muito cultural. Eram 21 h, e as pessoas ainda estavam na rua vendo as apresentações musicais na praça.
Segundo dia — 28/04 — Un día de temblores
Na manhã seguinte, fomos para Valparaíso, uma cidade litorânea há 130 km de Santiago. De lá, iríamos para Viña del Mar e Isla Negra, onde visitaríamos a Casa de Pablo Neruda, um dos meus poetas favoritos.
Valparaíso
É uma cidade portuária bem diferente de Santiago. Achei o trânsito um pouco louco e as pessoas mais agitadas. Ao chegarmos ao Porto, paramos para fazer compras e foi quando sentimos o primeiro tremor. Me senti confusa e um pouco tonta, já tinha visto notícias sobre o período sismológico que o Chile estava passando naquele momento, mas não dei muita atenção e também já estava lá. Se rolasse um terremoto, fazer o quê, mas não nego que estava extremamente aflita com a possibilidade.
Fomos andando até a Plaza Sotomayor onde ficam alguns monumentos históricos da cidade, como o Los Heróes de Iquique.
Subimos uma escadaria gigantesca ali perto, para chegarmos a um mirante que também funciona como museu, creio que se chama Paseo Vinteuno de Marzo ou La Sebastiana (não tenho certeza porque foi muito rápido), mas, por conta dos tremores, a casa estava fechada. Alguns metros dali, fomos caminhando para descermos e voltarmos ao centro.
Depois que fiz este vídeo, chegamos à esquina desta rua e lá os tremores começaram. Minha irmã e Seu Guillermo andavam na minha frente e, de repente, escutei o grito dela e vi ele a segurando, meu coração foi parar na garganta (de novo e no dia seguinte, rs) e senti minha pressão subir subitamente. Quando olhei ao lado, as casas e o poste tremiam sem parar, parecia coisa de filme, sabe? Mais à frente, pessoas gritavam, vimos uma mulher com uma criança chorando (foi com o grito dela que minha irmã se assustou) e tudo estava chacoalhando. Acho que a sensação durou 10 segundos. Foram 10 segundos que eu não entendi absolutamente nada do que estava acontecendo e só tentava respirar fundo para me acalmar. Foi então que eles comentaram que se tratava de um terremoto e eu já ria de nervoso. Na realidade, eu não me senti tonta, mesmo que este terremoto tenha sido mais forte do que o tremor de antes. Adrenalina, que loucura!
Começamos a descer as escadas para voltar ao centro. Eu estava com pressa, não sei porquê, só queria sair logo dali. Ouvia as pessoas gritando “temblores” (tremores) na rua, correndo de um lado para o outro e o trânsito, que parecia louco antes, ficou ainda mais caótico. Quando passamos na frente de uma lanchonete, vimos a notícia na TV que acabávamos de vivenciar um terremoto de 6 de magnitude onde o epicentro foi ali mesmo, em Valparaíso.
Viña del Mar
Fomos para o estacionamento e eu fiquei me perguntando o que aconteceria se rolasse outro terremoto enquanto ainda estávamos no subsolo daquele prédio de vários andares. Assim meu coração de 26 aninhos não aguenta!
Partimos, em meio ao trânsito louco, para Viña del Mar, outra cidade litorânea há menos de 5 km dali. O cenário todo mudou, as ruas estavam cheias, porém, bem mais tranquilas do que em Valparaíso.
Estacionamos numa praça em que tinha um cassino gigantesco, Seu Guillermo comentou que cassinos grandes eram comuns no Chile e aquele era um dos maiores e mais antigos.
Viña del Mar é encantadora e se mostrou muito acolhedora após à experiência traumática em Valparaíso. Paramos para almoçar em um restaurante em que fomos muito bem atendidos. Pedi um pollo asado com papas fritas que nada mais é do que um pedaço gigante de frango assado com batatinhas fritas que acompanhava salada e uns pãezinhos com pebre (uma vinagrete apimentada).
Depois, andamos até o Mirador Pablo Neruda na frente do Relógio de Flores e percorremos um bom caminho da costa à pé. As paisagens deslumbrantes não paravam de aparecer, era como se sentir num paraíso, onde quer que se olhasse, tudo era bonito e pleno. Na real, eu não me interesso muito por pontos turísticos, eu gosto de ver as paisagens, conversar com as pessoas locais e meio que fazer uma imersão do que rolê turista. Então, provavelmente não vou dar muita atenção a certos detalhes.
Até vimos uma foquinha disputando com as aves os peixes que o restaurante joga no mar.
Eram quase 18:00 e não daria mais tempo para conhecer Isla Negra, onde fica a casa do Pablo Neruda. Uma pena, vai ficar para próxima vez que voltar e, quem sabe, tiver uma nova oportunidade com Valparaíso. Paramos para tomar um sorvete delicioso de manjar que é um doce de leite e também levamos para a casa um bolo de tres leches (esqueci de tirar foto — recebe doce de leite, chantilly e um creme de leite, tudo isso em camadas de massa folhada).
Seu Guillermo então nos levou para dar uma volta em Concón, uma cidade vizinha com muitos restaurantes de mariscos.
Por lá, entramos numa lanchonete e foi a primeira vez que pedi água e alguém não entendeu. “Una água, por favor”, e recebi um “O quééé?”. Tudo questão de entonação, eu precisava melhorar se quisesse ser entendida. Compramos também empanadas de pino, basicamente carne picada com cebola. Já tínhamos comido uma empanada frita de frango e queijo na saída do metrô no dia anterior, que era exatamente igual a um pastel de feira. Sinto que me tornei uma devorada de empanadas, mas ainda estava em busca daquela TOP, aquela empanada TOPZERA e dizer: é você, deusa!
Depois de quase duas horas chegamos na casa do Seu Guillermo e eu achava que merecia uma cervejinha para relaxar. Estávamos cansados para sair e o centro de Santiago, que é abarrotado de bares, ficava um tanto longe para ir naquela hora. Seu Guillermo então me deu uma garrafa de cerveja vazia para trocar na Botelleria (uma espécie de adega que vende bebidas e doces) ali perto de sua casa. Chamei minha irmã e, durante o trajeto, fui pensando em como falar para o atendente. “Puedo cambiar esta botella de cerveza por otra?”, recebi “Si, claro” do atendente. Compramos mais algumas coisas e saí de lá feliz por ter sido compreendida.
Sei que parece bobo, mas eu, com o espanhol fraco e destreinado, achei que seria mais fácil de me comunicar. E, veja bem, EU QUERO me comunicar. Eu gosto de conversar e conhecer pessoas, por isso sofri tanto. Percebi que realmente subestimei a linguagem, os chilenos falam muito rápido e, em alguns momentos e dependendo da entonação da pessoa, era muito difícil entender o que ela dizia. Fiquei com raiva de mim mesma, mas também com um forte desejo de me aperfeiçoar para voltar ou para visitar outros países que falam espanhol.
Terceiro dia — 29/04 — Descubiertas
No sábado, fomos para a casa da Patricia visitar a Sara e seus filhos Natasha (que hoje tem 19 anos, mas eu vi nascer antes de voltarem para o Chile) e Gabriel, um bebezinho lindo e muito alegre. Nos receberam com um pescado cozido com camarões, ensalada de mayo (salada de maionese), cerveja, mais pisco sour e sucos. Tudo uma delícia!
Conversamos bastante sobre como estavam as coisas aqui, sobre o que mais faríamos durante a nossa estadia e que deveríamos nos aventurar sozinhas pelas ruas de Santiago. Então, ao anoitecer, nos deixaram na estação mais próxima chamada Le Ovalle e fomos até a Baquedano. Por lá, fomos andando até o Galindo, no bairro Providência, um restaurante famosinho entre brasileiros que achamos na internet, onde encontraríamos o famoso pastel de choclo, um assadão gigante de massa de milho meio adocicado com carne de porco, frango, uva passa, cebola e azeitona. Confesso que esperava algo mais próximo à nossa polenta assada e o gosto doce não me agradou muito, lembrou uma pamonha e a massa grudava nos dentes. Minha irmã pediu um costillar ahumado com papas fritas, uma costela de porco assada com batata frita temperada. Veio muita coisa e não aguentamos comer tudo. O garçom nos atendeu muito bem e, pelo visto, estava acostumado com brasileiros, porque quando pedimos a “clave” do wi-fi ele perguntou se queríamos a “senha”.
Mesmo depois de comer tanto, ainda cabia espaço para explorar mais a cidade. Nos perdemos em alguns momentos e o wi-fi estava ruim para pesquisar novos endereços. Sem falar que minha irmã comprou um chip 3g e mesmo assim o google maps não funcionou direito. Andamos um tanto e descobrimos algumas ruas, entre elas a Estados Unidos, e por perto creio que tinha a embaixada dos Estados Unidos, muita gente vendendo artesanato e pessoas falando em inglês.
Voltamos então aonde já conhecíamos, na rua monjitas.
Donde queda la calle Monjitas, por favor?
Foi o que perguntei para uma moça de uma banca de cigarros que nos explicou direitinho.
Sentamos numa das dezenas de bares que deixam as mesas na rua. Foi uma experiência bem legal e um garçom foi um fofo em todos os momentos. Só gostaria de lembrar o nome do bar, vasculhei o google, mas não encontrei. Este bar fica na Monjitas quase de esquina com a rua Jose Miguel de la Barra (edit: se chama Felixciano). Tomei duas cervejas artesanais locais — muito boas, por sinal — e minha irmã pediu duas doses de pisco sour que estavam em promoção.
Para voltar, pedimos um uber e percebemos que o app funciona muito bem por lá. O problema foi que existiam duas ruas com o mesmo nome e o motorista nos levou para a rua errada. E para explicar que estava errado? Ainda bem que deu tudo certo e ainda fui elogiada pelo motorista, disse que falei direitinho e ainda conversamos bastante até chegarmos na casa. :)
Quarto dia — 30/04 — Chile politizado
Na noite anterior eu dormi muito mal, não sei se por que senti mais tremores na rua e na casa, ou se foi porque bebi e também não dormi direito antes. Acho que estava impressionada demais com tudo aquilo que estava vivendo e também preocupada com a possibilidade de mais terremotos. Acho que parte de mim sabia que não teria outra oportunidade como aquela tão cedo, então queria aproveitar ao máximo.
Era como viver um sonho. Certamente estava vivendo um sonho.
No quarto dia, Seu Guillermo nos levou à feira de rua, onde encontramos seu irmão Carlos. Por lá, vimos de tudo, desde pescados, frutas e legumes, a brechós de roupas e sapatos e barracas onde se vende tudo para a casa, até papel higiênico.
Quando voltamos, Seu Guillermo pediu para cozinharmos uma pasta como fazemos no Brasil e depois fomos para a casa de sua irmã Sandra, em Champa, há 45 minutos dali.
Champa
Todo o caminho era muito bonito e repleto de paisagens pitorescas.
Quando chegamos na casa dela, conhecemos seu marido Marco, sua neta e seu sobrinho. Pouco depois, eles nos levaram para dar uma volta na região, onde poderíamos conhecer o cruzamento entre a Cordilheira dos Andes e a Cordilheira da Costa.
Ao voltarmos, um dos irmãos, Andrés, estava lá. Andrés mora há 37 anos na Alemanha e viveu em vários países, como Itália e França, e sempre volta ao Chile para passar os três meses do inverno por lá. Ele era bom em provocar e acho que com ele aprendi um pouquinho mais do idioma, mesmo que em pouco tempo.
Personas con hambre, segundo Andrés, são pessoas com a cara fechada, com fome. Eu não tinha fome de comida, mas tinha fome de entender o que estavam conversando. Uma das coisas que percebi na família do Seu Guillermo é que existe um forte senso político entre eles, coisa que a gente não vê muito no Brasil em famílias antigas e, principalmente, tradicionais. A família tradicional brasileira é, em geral, conservadora. Por isso, me surpreendeu muito as discussões sobre política sem todo o respaldo da mídia, inclusive, com boas refutações contra a mídia convencional.
Andrés nos perguntou sobre nossa religião e minha irmã tentou explicar que somos ateias. E, ao perguntar a eles sobre o assunto, gostei muito da resposta de Seu Guillermo: “Nossa criação é católica, porém, crescemos e passamos a nos questionar o porquê da igreja católica estar sempre vinculada aos cargos dominantes ou a quem estava no poder no momento. Por isso, não temos e nem seguimos qualquer religião, mas respeitamos a religiosidade em si”.
Acho que uma das coisas que mais me surpreendeu no Chile é a consciência política da população e a manifestação desses ideais e reivindicações em locais públicos, especialmente vindo de pessoas que convivemos naquele curto período. Creio que por terem saído recentemente de uma ditadura, a militância seja mais forte e menos silenciada, mas não tenho como comprovar ou afirmar isso apenas em cinco dias que estive lá. Acho que toda essa atmosfera sócio-política me encantou, apenas. Talvez seja algo que eu tenha que descobrir ou procurar entender melhor através de uma possível vivência.
Independente da religião, existe um respeito aos que se foram. Por lá, encontramos mais de dois memoriais de pessoas que morreram durante a ditadura repletos de flores, santos e homenagens.
Duermo poco, sueño mucho
Nesta noite estava mais tranquila, mas dormir continuava difícil e só peguei no sono quando não aguentava mais permanecer acordada. Nossos dias estavam acabando e eu não tinha exterminado metade da curiosidade e fúria em conhecer aquele país. O treme-treme não parava e minha pressão parecia sempre alta, ou baixa. Não medi, mas sentia que meu corpo não estava funcionando da mesma forma. Seria altitude ou ansiedade?
Segunda parte aqui: https://medium.com/@anglicayassue/chile-un-pa%C3%ADs-de-temblores-culturales-parte-2-db2308393be0