O machismo de todos os dias, o silenciamento das nossas vozes e o grito rouco pelo #ForaTemer
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Eu tenho vários grupos de amigas e vivo rodeada de mulheres a minha vida toda. Sejam elas militantes ou não, a gente não para de ver que existe machismo em tudo. E não precisa saber que é feminista pra isso. Afinal, em qualquer lugar que você vá, tem algum homem te fazendo calar a boca, te reduzindo a números ou tentando te colocar “no seu lugar”, e toda mulher já passou por qualquer um destes exemplos mesmo sem perceber que é vítima do machismo.
Tem homem dando as costas pra mana grávida, tem homem com síndrome de patrão/professor tentando te ensinar “como se faz” e te falando que por mais que você tente, ele sabe mais do que você e não importa o que você tem a dizer, tem homem pegando o crédito do seu trabalho para ele, tem assédio por todos os lados, tem sujeira até não acabar mais. Isso tudo tem nome: gaslighting, mansplaining, manterrupting, bropriating, e por ai vai. Não gosto de termos em inglês, mas enfim, coloquei aqui só para enfatizar que:
NÓS SABEMOS O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO E QUANDO ESTÃO FAZENDO!
E eu vejo tudo isso só na nossa vida pessoal. Daí a gente lê nos jornais umas atrocidades que vão contra o que a gente acredita e prega, que sempre vão contra as mulheres e você percebe que ainda falta muito pra gente conseguir respeito.
Eu já fui pra rua pedir pra Dilma ficar. E a minha voz, e a voz de muitas mulheres e homens, não foi escutada. Não porque eu achasse que a Dilma fosse a candidata perfeita e nem porque não enxergava as falhas na sua gestão, ou porque eu sou uma “petralha burra”, mas porque eu queria que respeitassem o meu voto e porque não aceitava um Temer no seu lugar.
E nos desmoralizaram, inclusive como brasileiros. Usaram a nossa bandeira contra a nossa voz e a ergueram em prol de algo que hoje até se perdeu.
Tive que deixar a Dilma de lado e fui pra rua gritar #ForaTemer de novo, mas a minha voz, e a de muitos brasileiros, foi silenciada novamente e o todo poderoso assumiu a presidência.
Não sou da turma que vai falar “chupa”, porque além de achar infantil não me coloca num pedestal de sabedoria, do tipo “eu já sabia”. Acho até que essa rivalidade não tem mais sentido, afinal, estamos no mesmo barco.
Não tem problema se você, que ano passado foi pra Avenida Paulista gritar por várias coisas que pra você e seus similares faziam sentido, hoje está calado. Não tem problema se durante esses protestos “patriotas” você xingou pessoas como eu de ignorantes, porque eu também já pensei isso de você em momentos de raiva e extrema angústia, como foi naquele 31 de agosto de 2016.
Mas, acho que é importante a gente entender de uma vez por todas que quem vai pagar o pato não é o Skaf, o Aécio, o Cunha, o Temer ou o Lula, é a gente. É sempre a gente. O que me deixa triste, confusa e impotente assim como você.
E eu sei que as mulheres vão continuar pagando o preço do machismo porque homens, que não pensam em nós, mulheres, continuam no poder, seja na política, nas empresas ou nas ruas.
E, nós mulheres, desde aquelas que estão tentando nos representar lá em Brasília, aquelas que estão nas ruas e nos palanques lutando todos os dias, ou aquelas, que como eu, estão se sentindo numa impotência colossal, todas estamos tentando ser ouvidas.
No meio de toda essa confusão, eu vou perguntar de novo:
ATÉ QUANDO VÃO NOS CALAR?
E, pra não esquecer: #ForaTemer